Alimentação e Filosofia de Vida

Para quem assistiu o Globo Repórter na última sexta-feira vai encontrar aqui mais algumas curiosidades. E para quem não assitiu, vou dar uma de repórter e passar a vocês um pouco da sabedoria desse povo que é realmente obscecado pela perfeição e pela qualidade de vida.

Qualidade de vida essa que coloca as Japonesas no topo da longevidade há 21 anos, com média de 85,5 anos. E realmente não é difícil de entender quando se está por aqui.

Primeiro porque todo mundo anda muito: seja a pé, de bicicleta ou mesmo nos lugares próprios para esporte. Muita gente aqui faz esporte, e sempre com muita elegância ( até no esporte eles tem o quesito “moda” levado a sério).

O segundo motivo está obviamente na qualidade da alimentação desse povo. A comida é simplesmente muito gostosa, ao estômago e aos olhos. Além disso é colorida, cheia de legumes, hortaliças, brotos, cogumelos, peixes e muita sopa com missô ( a tal pasta de soja, que descobri ter propriedades semelhante ao colágeno para a pele e também melhora as funções cognitivas, nos deixando mais espertos).

Além disso, sal, gordura e açucar são ingredientes para serem usados com muita moderação. Nada aqui é salgado, ou gorduroso ou doce em excesso. Mas nem por isso deixa de ter sabor, pois eles capricham nos temperos e na variedade dos gostos. Além da arrumação de qualquer prato a ser servido. Babem aí!



Outra coisa muito interessante é o serviço. Em se tratando de alimentação, tudo aqui é limpo, bem servido, rápido e muito honesto. Os lugares são pequenos, é verdade, mas nem por isso deixam de ser confortáveis. A gente chega num restaurante e logo alguém vem nos dar um “alô” e perguntar quantas pessoas são. Mesmo nos finais de semana ( onde tudo é absolutamente cheio de gente), nunca se espera muito para sentar. O serviço nas meses é absolutamente cordial e rápido. Normalmente, mesmo que não se peça, é colocado água e/ou chá para acompanhar as refeições. Refrigerante aqui é raro de ser pedido ( alguns restaurantes nem servem). Depois do pedido feito, normalmente temos o tempo de ler uma página de um livro e pronto, comida servida! ( e para os Japoneses, tempo para ler alguma coisa no celular, ou mesmo ficar jogando algo no aparelho – chega a ser engraçado: algumas vezes 2 ou 3 pessoas estão numa mesa “conversando”, mas todas estão com o celular na mão fazendo algo mais... ajudando o título do blog aqui ... rsrs).




Muita gente aqui leva a tal “marmita” , chamada Bentô, para comer nos dias de trabalho. E come-se em qualquer lugar: nos parques , numa mureta perto da estação de trem, na cozinha do trabalho, mas, principalmente, na frente do micro !!!! Eu não diria que isso é qualidade de vida ...vejam bem. Mas devo concordar que a marmita é sempre bonitinha, variada e com pouca comida!!!

Mas não pensem que eles passam o dia apenas com aquela marmitinha no estômago. Que nada!!! Passam o dia todo comendo !!! A começar pelo café da manhã, em que muitos comem arroz, peixe, salada e sopa – tudo regado a chá verde!!! Isso mesmo! No vôo para Tokyo a pergunta no café da manhã é: Café Japonês ou Continental. Eu nem penso! Continental na certa!!!

Depois comem no meio da manhã, no meio da tarde, oferecem biscoitos, docinhos, chocolates, etc. E não devemos esquecer a janta ! Não sei como eles se comportam em casa, mas nas vezes que fui jantar com alguns colegas, eles mandam ver mesmo!!!!





Voltando ao quesito comida, eles têm realmente uma visão de qualidade alimentar muito legal. Tudo no supermercado é fresco e novinho, e de preferência, da estação. A questão de alimentos orgânicos aqui é quase uma unanimidade. Sal é o grosso e açucar é o escuro. Compra-se tudo em pequenas porções, assim não há estrago nem desperdício.



Mas eu acho que existe “um algo mais” por aqui. Existe uma filosofia por trás de todo esse comportamento da busca pela perfeição e qualidade. Um querer de coisas boas, de desejar o bem para si e para os outros. De se comportar assim de dentro para fora.

E como disse o seu Saburo Shichi (103 anos) na reportagem do Globo Repórter: "É importante ter um diário, para você ver o que escrevia quando tinha 10 anos e depois 30. Assim, você pode lembrar sua vida, se arrepender dos erros do passado e não repeti-los"